PARA ENTENDER, REFLETIR E PRESERVAR O PATRIMÔNIO.
Ao divulgar os patrimônios vivos, os materiais e os imaterias de Pernambuco, a Fundarp verificou que o processo de preservação estava associado à responsabilidade e iniciativa de diversos atores entendimentos dos seguintes conceitos:
CULTURA
A palavra cultura não tem apenas um significado. Segundo a antropologia, cultura é tudo aquilo construído pela humanidade, desde artefatos e objetos até idéias e crenças. Além disso, é todo comportamento apreendido pelo indivíduo, independente de sua herança biológica. Cultura, portanto, é a forma pela qual o homem vive e modifica o mundo ao seu redor, criando formas de viver e conviver. Cultura é essencialmente o modo de fazer e de viver do homem.
IDENTIDADE
Os antropólogos conceituam identidade como uma característica de um ser que se percebe como tal ao longo do tempo. Essa identidade pessoal passa para o plano cultural, que é partilhada de uma mesma característica entre diferentes indivíduos. Sabemos que cada um de nós possui várias características e que elas estão relacionadas a diferentes grupos sociais dos quais fazem parte. Sabemos também que ao longo da vida várias identidades são criadas, como por exemplo, a identidade materna, a identidade de estudante, de profissional, a identidade ética, entre outras. Assim, mesmo pertencendo a uma nação, várias outras identidades nos definem como pessoa. Cada País, Estado e Município também tem sua própria identidade que vai se diferenciar de outras e é essa identidade que vai fazer dela única e especial.
VALOR
Segundo os sociólogos, valor é algo significativo, importante para um indivíduo ou grupo social. Esses objetos podem ser, por exemplo, joias, roupas, fotografias, livros e também coisas imateriais como cantiga de ninar, receitas, histórias, etc.
A valorização pode acontecer de forma coletiva. Existem bens que não são importantes apenas para uma única pessoa, mas para todo um grupo. São esses bens, de valor coletivo, que caracterizam um grupo e que o diferenciam dos demais. Podemos dizer que o valor das coisas, além do aspecto monetário, é sempre uma construção subjetiva. É determinado pelas pessoas através do uso, da apreciação estética ou por questões afetivas como a identificação no objeto de parte da história da sua vida, da identidade de sua comunidade.
HISTÓRIA
A arte ou a ciência da história procura interpretar e narrar uma série de acontecimentos escolhidos dentre as ações humanas ao longo do tempo. Para os antigos a palavra história remetia ao histor, do grego, "aquele que vê". O poder e o saber de contar uma história estavam assim ligados à transmissão do testemunho de um fato memorável que se viu com os próprios olhos. A habilidade e as possibilidades de contar uma história, contudo, foram exercidas por muitos que testemunharam indiretamente vários fatos de "ouvir de" oupor terem estudado nos antigos documentos. Feitos e personagens grandiosos, especialmente os chamados grandes homens ligados à religião, à política e às guerras, foram privilegiaos. No caso da história brasileira, foi bem comum destacar nossas heranças quinhentistas portuguesas em detrimentos das indígenas e das africanas que construíram nossa nação. Atualmente , esboçamos uma nova história na qual nosso passado pode ser contado de várias formas no presente, interpretando e respeitando a diversidade cultural dos povos. A história vem contribuindo significativamente para a compreensão dos elementos de identidade individual e coletiva, integrando as histórias do local com o nacional e o global através da valorização, difusão e preservação do patrimônio cultural.
MEMÓRIA
Nossos sentimentos, atitudes e aprendizados feitos em diferentes momentos de nossa vida encontram na memória o lugar privilegiado de interações entre o nosso cérebro, nosso corpo e o mundo que nos cerca. Em seu significado latino, o ato de lembrar, recordar, refere-se àquilo que "passa pelo coração". Contudo, o que aconteceu mesmo passou, não volta mais, e, por isso, entre esquecimentos e lembramças fazem no presente escolhas de um tempo vivido. Os registros de nossas memórias podem ser então considerados uma das principais ferramentas, tanto da preservação, quanto da transmissão de valores e da identidade cultural e da história de um povo.
PATRIMÔNIO
A palavra patrimônio significa herança paterna ou familiar. Bens de natureza econômica herdados por alguém, ou acumulados durante sua vida. Os bens que fazem parte do patrimônio cultural não interessam apenas a uma única pessoa, eles são uma herança coletiva, pois são importantes ou representativos para a história e para a identidade de uma coletividade. Mas essa herança patrimonial não é estética, e sim, dinâmica, porque se modifica ao longo das gerações, de acordo com o surgimento de novas necessidades. O Patrimônio Cultural revela os múltiplos aspectos da cultura de uma comunidade. No Brasil, a busca pelo reconhecimento do patrimônio nacional se iniciou na década de 20 e até hoje se procura abranger a rica diversidade cultural do nosso território, tendo em vista o reconhecimento da miscigenação entre as culturas étnicas para a formação da identidade brasileira.
BENS CULTURAIS
São todas as atividades de modos de viver e agir de um grupo, bem como a materialização da manifestação da sua cultura. Ou seja, são bens culturais: a culinária, as construções arquitetônicas, as danças e rituais, as esculturas, os documentos, livros antigos, etc. Podemos então dividir ou classificar os bens culturais em materiais ou imateriais, pois possuem características e naturezas diferentes, em alguns casos harmoniosas.
BENS IMATERIAIS
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) consideram bens imateriais, as práticas e representações, as expressões, os conhecimentos, e as técnicas junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais a eles associados. Podemos citar como exemplos o caboclinho, as feiras, a quadrilha junina, o frevo, as rezadeiras, as parteiras, etc.
BENS MATERIAIS
Já os bens mateiais, de acordo com o Iphan e a Unesco, são bens de natureza concreta, ou seja, monumentos, núcleos urbanos, sítios arqueológicos, arquivísticos. Dividen-se ainda em móveis, quando podem ser deslocados de seu lugar original, ou imóveis, quando são fixos. Como exemplos de bens omóveis temos as igrejas, o casario, as esculturas, a casa-grande de um engenho, uma paisagem, achados arqueológicos, bens móveis integrados (a exemplo um altar mor, um painel de azulejos portugueses), etc. A classificação dos bens em tangíveis também é importante para a preservação eficaz de cada tipo de bem. Para a salvaguarda dos bens materiais, temos como principal instrumento o tombamento. Para os bens imaterias, o instrumento de proteção é diferente e bem mais recente: o registro.
TOMBAMENTO
O tombamento é o ato legal de reconhecimento do valor cultural de um bem, que o transforma em patrimônio oficial e institui regime jurídico especial de propriedade, levando-se em conta sua função social. É um ato administratrivo, cuja competência no Brasil é atribuída pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, realizado pelo poder executivo. Pode ocorrer em nível federal, feito pelo Iphan, ou ainda em esfera estadual ou municipal, com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, ipedindo que venha a ser destruídos ou descaracterizados. O nome tombamento advém da Torre do Tombo, o arquivo público português, onde eram guardados e conservados documentos importantes de sua história.
REGISTRO
Outro instrumento de que se dispõe para a preservação do patrimônio cultural é o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. Através do Registro se reconhece que um determinado bem faz parte do Patrimônio Cultural Brasileiro. Esse reconhecimento, de bens e expressões representativos da diversidade cultural brasileira por meio do registro, significa mais do que a atribuição de um título a um determinado bem cultural. Representa, principalmente, a trajetória e transformações que sofreu ao longo do tempo;seus modos de produção; de que são seus produtores; como se dá seu consumo ou modo de circulação na sociedade, entre outros apectos. Ou seja, consiste na identificação dos significados atribuídos ao bem e na produção de vídeos ou material sonoro sobre suas caracter´sticas e contexto cultural.